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quarta-feira, 17 de março de 2010

Poesia "Enquanto o Coral Cantava" de Myrtes Mathias.

Conforme eu havia prometido, segue abaixo, uma das primeiras poesias que declamei, e considero uma das minhas prediletas.


ENQUANTO O CORAL CANTAVA



                                                                                             
Enquanto a música enchia o templo,

Eu vi o Rei.

Vestido de majestade, coroado de honra,

Um cetro de poder e glória na mão,

Ele voltava.



Livre dos sapatos e dos preconceitos,

Da doença e da fadiga.

Feliz, como uma criança que se atira

Na direção do Pai__ depois de uma ausência

Que só fez maior o amor e a necessidade de ver__ eu corria

No meio da multidão, que erguia palmas brancas

Em saudação Àquele que voltava.



Lá estavam Livingstone, Carey, Bratcher,

Corinto, Miranda Pinto...

Lá estavam os vultos frágeis,

Ana de Ava, Nomei Campelo, Caíta,

Lotie Moon...

Os missionários de todas as raças.

Os grandes que se fizeram pequenos,

Os pequenos que a fé tornou gigantes:

Bagby, Taylor, D.Chiquinha,

que eu conheci quebrando coco babaçu, para o sustento da obra que eles começaram.

Lá estavam D. Maria e D. Carmem

__um corpo perfeito no lugar daquele que a lepra deformara.

Lá estavam Darito e os companheiros de enfermaria que ele levara a Cristo, livres do balão de oxigênio.

E do terrível clima de segregação.

Lá estavam meus amigos cegos, com os olhos enormes de luz e expectativa;

Meus priminhos mudos, entoando mais alto que todos, o canto de vitória e gratidão.

Livres de grades e de cadeiras de rodas, lá estavam muitos que eu conhecera prisioneiros da doença e do pecado. Lá estava meu irmão que Deus levou tão cedo.

Lá estavam os mártires de todas as épocas, do tempo dos césares e das cortinas de ferro

e de bambu .

Lá estavam homens de pele escura e alma cor de neve; índios de brilhantes cabelos, crianças de todas as raças, cantando hosanas como na entrada triunfal de Jerusalém.

Lá estavam os meninos do Tocantins, os barqueiros do São Francisco, a gente do Araguaia, os colonos da Transamazônica, que se haviam tornados súditos do Caminho maior.

Num milagre sem explicação a multidão de mil cores, que entoava hinos em mil línguas e dialetos.

Era absolutamente igual, no sentimento que fazia de todos, uma só corrente de alegria, formada por mil elos de amor.



Eu disse que todos estavam lá?

Não sei. Parece-me que havia lacunas na multidão e no coração do Rei. Muitos estavam ausentes, presos a cuidados terrenos, deixando a escola suprema

para um amanhã inexistente,

Oferecendo a Momo um último holocausto,

Como se fosse possível

Servir a dois senhores,

Abraçar o mundo, sem desprezar o Rei.



E foi assim, enquanto o coral cantava,

Que pude sentir o quanto amava o Rei,

O quanto meu coração agradecia,

Por estar entre os salvos;

Por chamá-lo pelo nome que Madalena usou quando o reconheceu:

__Voltaste, Raboni ! Aleluia!

Bem –vindo sejas, meu Senhor, meu Deus!

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